Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros (SBEQ – https://www.sbeq.net/) (GARBINO et al., 2022), a lista oficial de morcegos brasileiros inclui atualmente 181 espécies em 68 gêneros e 9 famílias. Acredita-se que cerca de 45% (80 espécies) das espécies de morcegos conhecidas para o Brasil já foram registradas em cavernas, as quais são utilizadas de forma permanente ou temporária como abrigos diurnos ou poleiros de alimentação (PEREIRA; REIS; TAVARES, 2022).
O primeiro estudo de morcego em cavernas no Brasil foi desenvolvido pelo naturalista Augusto Ruschi e publicado em 1952 no Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão. Durante este estudo, Ruschi realizou um levantamento da fauna associada a três cavernas incluindo dados pioneiros sobre coabitação, comportamento e área de uso dos morcegos cavernícolas do Brasil (RUSCHI, 1952). Desde então, diversos pesquisadores deram continuidade aos estudos de morcegos cavernícolas no Brasil e, apesar do incremento nos últimos anos de estudos sobre estes animais em cavernas do país, pouco ainda se sabe sobre aspectos básicos de sua biologia e da relação destes com o ambiente cavernícola (PEREIRA; REIS; TAVARES, 2022).
Os morcegos possuem importante papel no aporte energético em ambientes cavernícolas. Morcegos utilizam as cavernas como abrigo durante o dia, mas que necessariamente saem a noite para se alimentar. Desta forma, o guano (acúmulo de fezes) depositado no interior destes abrigos é considerado como um importante recurso trófico para a manutenção da vida de diversos grupos de invertebrados nestes ambientes, incluindo espécies troglóbias. Em cavernas permanentemente secas onde não há a contribuição da água no aporte energético, o guano pode se tornar a única fonte de alimento disponível.
Vale destacar, que os morcegos não são observados em todas as cavernas e que os aspectos que influenciam a seleção de abrigos por morcegos ainda não são claros, mas acredita-se que a escolha leve em consideração a interação de diversos fatores, incluindo fatores físicos (temperatura, umidade, fluxo de ar e intensidade da luz), fatores bióticos (distribuição e abundância de alimento, riscos de predação, competição), além de fatores ecológicos da espécie (KUNZ, 1982; TORQUETTI; SILVA; TALAMONI, 2017; BARROS; ENRICO; LOPES, 2020).
Tabela. Lista de espécies de morcegos com ocorrência em cavernas do Brasil. Fonte: PEREIRA; REIS; TAVARES, 2022 (Disponível em: http://editorarupestre.com.br).